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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Demóstenes e Marconi receberam caixa dois em troca de saneamento no Entorno do DF, diz delator da Odebrecht.Fernando Cunha Reis diz que cada um recebeu R$ 2 milhões em 2010 e, em 2014, o governador de Goiás recebeu mais R$ 8 milhões.Veja vídeos dos relatos..

Por Fernanda Borges, G1 GO


 Fernando Cunha fala sobre a ligação com Marconi Perillo e Demóstenes Torres
O senador cassado Demóstenes Torres recebeu R$ 2 milhões da empreiteira Odebrecht em caixa dois para sua campanha em 2010, segundo delação de Fernando da Cunha. Em um vídeo (assista acima), ele disse que o político também foi o responsável por apresentar à empresa, em 2010, o então candidato ao Governo de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). De acordo com a delação, o tucano também recebeu, na época, a quantia de R$ 2 milhões em doações não declaradas para sua campanha. Ambos negam as irregularidades.

Segundo os relatos de Fernando Cunha, o objetivo da Odebrecht com as doações feitas aos políticos era a viabilização de um projeto para a concessão de saneamento básico nas cidades goianas do Entorno do Distrito Federal.
Além da doação que teria sido recebida por Marconi em 2010, Fernando Cunha afirmou que, em 2014, quando buscava a reeleição, o tucano compareceu a uma reunião com o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e demais dirigentes da companhia, em São Paulo, quando pediu R$ 50 milhões, sendo que ficou acordado e foi efetuado o repasse de R$ 8 milhões.
“No elevador, Marconi Perillo me disse que a expectativa dele de contribuições da Odebrecht fosse de R$ 50 milhões. Eu disse para ele que esse valor era inviável, mas, de qualquer forma, eu pedi para o Jayme Rincón [indicado por Perillo] tratar com do assunto com o João Antônio Pacífico Ferreira [da Odebrecht]. Foi aí que acertamos a doação no valor de R$ 8 milhões, com o codinome ‘Master’”, afirmou o delator.
Por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), os episódios que envolvem Marconi Perillo foram enviados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), foro competente para julgar os chefes dos Executivos estaduais. No documento, consta a suspeita de que o tucano tenha recebido R$ 8 milhões para as campanhas de 2010 e 2014. Agora, caberá ao STJ analisar o pedido e autorizar o início das diligências solicitadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Sobre Demóstenes Torres, na petição assinada por Fachin, consta que os delatores apontaram que houve o repasse de verbas para a campanha do ex-senador e que foi ele quem apresentou Marconi Perillo à empreiteira. Assim, o ministro remeteu o caso para análise da Justiça Federal em Goiás, que é o foro competente para analisar as supostas irregularidades.


Demóstenes e Marconi receberam doações via caixa dois, dizem delatores
 Demóstenes e Marconi receberam doações via caixa dois, dizem delatores (Foto: Montagem/G1)
Em nota, a defesa do governador Marconi Perillo reitera que ele “só irá se manifestar após conhecimento integral do teor das declarações apresentadas”.
O texto diz “que, conforme já afirmado, o governador ressalta nunca pediu ou autorizou que solicitassem em seu nome qualquer contribuição de campanha que não fosse oficial e rigorosamente de acordo com a legislação eleitoral”.
Por fim, a defesa do governador destaca, ainda, “que irá esclarecer qualquer eventual questionamento, e que até o presente momento, não há qualquer inquérito autorizado pelo Poder Judiciário em tramitação no STJ, sendo impossível manifestação sobre citação sem a devida contextualização”.
A defesa de Demóstenes disse que ele "não cometeu quaisquer irregularidades e poderá demonstrar isso, caso venha a ser instaurada investigação".

 Alexandre José Lopes Barradas fala sobre ligação com Marconi Perillo

Saneamento básico

Ainda segundo a delação, Fernando Cunha contou como conheceu Demóstenes Torres: "O senhor Ênio Branco, que é catarinense, foi quem me apresentou ao então senador Demóstenes Torres. Ele marcou um jantar, eu fui ao apartamento funcional do senador. Depois, houve um segundo jantar, já no apartamento dele, em Goiânia, onde falamos um pouco mais sobre o nosso objetivo [saneamento básico no Entorno do DF], que era ver o que poderíamos fazer para que o Governo de Goiás levasse adiante uma concessão para esse entorno goiano”.
Cunha continuou a explicar as tratativas com Demóstenes. “Aí teve um terceiro jantar, de novo na casa dele, no qual ele me pediu, já prevendo a campanha, pois estávamos em 2009, uma contribuição em caixa dois de R$ 2 milhões para sua campanha de reeleição ao Senado. Logicamente que ele se propôs a ser um promotor dentro do estado de Goiás para uma concessão para [o saneamento] desse entorno”.
Depois, segundo a delação de Cunha, Demóstenes o convidou para um jantar no Rio de Janeiro. " O objetivo era me agradecer pelos R$ 2 milhões, mas dizia muito educado, que para ele não era só uma questão de ser reeleito . Que ele precisava ter uma reeleição estrondosa e que isso significaria no fututo uma força politica em Goiás, que ele poderia com isso vir a ser governador, vir a ser prefeito de Goiânia , enfim, que essa era a pretenção dele com aquela campanha. Ele nunca me disse, mas ele achava que, se ele tivesse uma votação estrondosa em 2010, pela projeção nacional que ele tinha naquele momento, podia até ter suas pretensões a ser presidente".
Na época, segundo Cunha, Demóstentes acabou apresentando à ele Marconi Perillo, que era o candidato ao governo.
“Em um quinto jantar, em 2010, o Demóstenes me apresentou o então senador Marconi Perillo, que era candidato ao governo. Conversamos e o Perillo destacou essa questão do Entorno do DF, pois é uma situação unânime, pois ninguém faz nada para resolver esse problema. Então o Marconi disse que ia fazer e nos pediu uma contribuição de R$ 2 milhões para a campanha dele. E isso foi feito, em nome de “Calado”, pois ele falou pouquíssimo nesse jantar. Nosso objetivo era promover em Goiás um leilão para que a gente pudesse participar”, contou Reis.
O delator diz que, então, foram feitas as doações para as campanhas de ambos os políticos goianos e ambos se elegeram para os cargos que pleiteavam. Contudo, em 2011, antes que a empreiteira pudesse procurar os políticos para dar andamento nos objetivos, foi deflagrada a Operação Monte Carlo, que resultou na cassação do mandato de Demóstenes.
“Houve uma iniciativa do senador para buscar junto à Saneago [Companhia de Saneamento Básico de Goiás] para que fosse feita alguma coisa [sobre o saneamento básico no Entorno do DF], mas, em seguida, veio a Operação Monte Carlo, que desmascarou o ex-senador. Inclusive em gravações da época apareceu nosso interesse em participar desse projeto. Então fizemos os pagamentos a todos eles [Marconi e Demóstenes], mas nada aconteceu”, disse o delator.
No vídeo que mostra a delação de Alexandre José Lopes Barradas (assista acima), o ex-executivo também relatou que a Odebrecht tinha o objetivo em obter a concessão do saneamento no Entorno do DF, mas, apesar dos apoios em campanhas de Marconi, nada avançou.
“Eu procurei o Marconi, por volta de março de 2011, quando ele já tinha sido eleito, e queria saber como que a gente poderia tocar o barco, como poderíamos começar a trabalhar no projeto. Ele demonstrou uma certa preocupação naquele momento, disse que ia pensar em como isso poderia ser feito e que voltaria a me contatar. Eu saí até um pouco decepcionado, pois pensei que ali a gente começaria a dar uns passos, mas vi que a coisa não estava assim tão consolidada na cabeça dele”, afirmou.
Segundo Barradas, por conta da Operação Monte Carlo, “houve um momento de fraqueza do governo de Marconi e, por isso, não se deu andamento nesse projeto”, disse o delator.
Em nota, a Saneago informou que o "Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) foi lançado em 2014 para viabilizar recursos para obras de esgotamento sanitário na região do Entorno do Distrito Federal, num valor aproximado de R$ 300 milhões".
Ao mesmo tempo, ainda conforme a Saneago, os recursos já haviam sido pleiteado junto ao Governo Federal. Diante disso, foi conseguiu o financiamento da Caixa Econômica Federal, via recursos do FGTS, para essas obras. Portanto, não houve a necessidade de se estabelecer as parcerias via PMI e o processo foi arquivado.

 Ricardo Roth Ferraz fala sobre doações entregues a Jayme Rincón

Caixa dois

Além de Fernando Cunha e Alexandre Barradas, os delatores João Antônio Pacífico Ferreira e Ricardo Roth Ferraz também falaram que a empreiteira fez doações via caixa dois ao governador de Goiás.
Segundo eles, após o acerto do tucano com a empreiteira, em 2010, Ferraz recebeu a missão de fazer os repasses da doação para Marconi. O governador, por sua vez, teria indicado Jayme Rincón, atual presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), como o responsável por receber os valores.
“A pedido do meu superior, João Pacífico, operacionalizei doações de campanhas em valores não oficiais para as campanhas de 2010 e 2014 do então candidato Marconi Perillo. A pessoa normalmente para contato era o Jayme Rincón, pessoa de inteira confiança do governador, com quem eu mantinha contato para repassar, pessoalmente, a senha, os respectivos valores e o local do pagamento”, afirmou Ricardo Ferraz (veja no vídeo acima).
Questionado sobre qual era o apelido dado pela empreiteira aos repasses feitos ao governador de Goiás, Ferraz disse que eram dois: “Patati e Padeiro”, sem saber especificar sobre o que os nomes se referiam.
G1 tenta contato com Jayme Rincón, mas as ligações não foram atendidas até a publicação desta reportagem. A reportagem também procurou a assessoria de imprensa da Agetop, nesta quinta-feira, e aguarda um posicionamento sobre o assunto.
Apesar de Ryncón ser apontado como a ponte entre o governador e a empreiteira, Ferreira afirmou que houve encontros com o próprio Perillo. “Teve, inclusive, uma reunião com o Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, isso para a eleição de 2014”.
Sobre tal reunião, Fernando Cunha explicou como foi feita a negociação. “Em março de 2014, a secretária do Marcelo Odebrecht recebeu uma ligação da secretária do Marconi Perillo, e ela pedia para marcar um almoço, em São Paulo, do Perillo com o Marcelo Odebrecht. Esse encontro foi feito no dia 28 de março daquele ano, no escritório da Odebrecht, e o Marcelo chamou para estar todos os presidentes da empresa que tinham alguma concessão em Goiás”, contou.
Segundo Cunha, o governador de Goiás “fez questão de conversar com o Marcelo para mostrar o porte que a organização tinha em Goiás e disse que queria contar com apoio do mesmo tamanha da Odebrecht no estado”. “Foi quando eu indiquei um funcionário para tratar desse apoio, o Alexandre José Lopes Barradas, e ele indicou o Jayme Rincón, presidente da Agetop, e ficou combinado que seriam coordenadas as contribuições”.
O delator ressaltou que, apesar de solicitar R$ 50 milhões, o governador atendido com um valor menor. “Foi aí que acertamos a doação no valor de R$ 8 milhões, que foi pago com o codinome ‘Master’, entregue em um prédio na Avenida Luís Carlos Berrini (SP) a Jayme Rincón”, ressaltou.

 João Antônio Pacífico Ferreira fala sobre doações via caixa dois a Perillo

Citações

No total, a lista de Fachin cita 12 governadores, 24 senadores, 37 deputados, oito ministros e cinco ex-presidentes aparecem entre os citados pelos executivos da Odebrecht na maior delação da história do país. Confira a lista com todos os nomes.
Entre os sete goianos citados, além de Demóstenes e Marconi, Fachin autorizou a Procuradoria Geral da República (PGR) a investigar o deputado federal Daniel Vilela (PMDB) e o pai dele, Maguito Vilela (PMDB), que é ex-senador, ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia. Eles são suspeitos de receber dinheiro de campanha via caixa dois.
Em nota conjunta, Maguito e Daniel negaram as acusações. "As campanhas de Maguito Vilela, em 2012, e de Daniel Vilela, em 2014, foram feitas inteiramente com recursos contabilizados conforme determina o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aprovadas pela referida Corte. As prestações de contas estão disponíveis no site do TSE. Maguito e Daniel afirmam que nunca estiveram, nunca falaram, e sequer conhecem os delatores. Ambos refutam qualquer acusação”, destacou o texto.
Os outros citados, cujas condutas ainda serão apuradas, são o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), o ex-prefeito de Trindade Ricardo Fortunato e o ex-deputado federal Sandro Mabel, todos suspeitos do recebimento de caixa dois em campanha.
Já Iris Rezende destacou que a citação do seu nome “causa estranheza”. “Todos os recursos das minhas campanhas eleitorais foram apresentados ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e devidamente aprovados. Expresso minha total tranquilidade sobre o assunto e coloco-me à disposição para colaborar com qualquer investigação", disse.
Em nota, Fortunato disse que "ficou surpreso, mas expressa tranquilidade sobre a citação do nome dele na lista e vai aguardar o teor da citação para se pronunciar. Mas de ante mão, ressalta que nunca recebeu doação sem declarar ao TRE que a prestação de contas eleitoral foi aprovada integralmente pelo tribunal e diante disso tem a certeza do arquivamento".
G1 tenta contato com Sandro Mabel desde terça-feira (11), mas as ligações não foram atendidas. Ao jornal "O Popular", o ex-deputado federal disse que "não viu seu nome na lista do Fachin, até porque não teria que estar".
Também serão alvo de investigação a licitação da ferrovia de integração Oeste-Leste e as obras do novo Aeroporto de Goiânia. Os casos foram remetidos à Justiça Federal em Goiás.


[VALE ESTE] Lista de Fachin
Fonte:Reprodução/G1goias.

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