Um dos delatores, João Antônio Pacífico Ferreira, informou que, por iniciativa do então presidente da Infraero, Carlos Wilson, foi organizado um cartel de empreiteiras para fraudar várias licitações de reformas de aeroportos pelo país, entre eles o de
Goiânia.
Segundo o delator, as empresas que faziam parte do cartel sugeriam que no edital fossem colocadas algumas exigências rigorosas, de maneira a limitar a concorrência para que apenas as participantes da fraude pudessem vencer a licitação. Na capital, a Odebrecht era a empresa líder para fazer a reforma no aeroporto.
Em troca de todo esse favorecimento nos editais, o presidente da Infraero, Carlos Wilson, teria cobrado 3% do valor dos contratos. Para a reforma no aeroporto de Goiânia, o contrato era no valor de R$ 257.756.233,60.
O delator informou ainda em seu depoimento que Carlos Wilson disse que os valores seriam destinados aos partidos PT e ao PTB.
O também delator Benedito Barbosa da Silva Júnior reforça a denúncia de João Antônio Pacífico Ferreira. Em seu depoimento à Justiça, ele afirma que autorizou pagamentos de propina referentes ao aeroporto de Goiânia. O delator conta que era responsável por arrecadar a parte que seria paga para o PTB.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) esclareceu, em nota, que desconhece investigações relativas às obras recentes de construção do novo aeroporto, iniciadas em 2012 e concluídas em 2016.
Em relação às obras antigas, iniciadas em 2005 e paralisadas em 2007, houve indícios de sobrepreço no contrato. O Tribunal de Contas da União determinou à Infraero a retenção de 20,23% dos valores a serem pagos. O consórcio construtor, por sua vez, entrou com ações ordinárias contra a Infraero e a União, e paralisou as obras. Por fim, afirmou que as pessoas citadas nas delações já não trabalham mais na empresa.
O G1 tentou contato com as assessorias de imprensa de imprensa do PT e do PTB, mas as ligações não foram atendidas até a publicação dessa reportagem.
Ferrovias
Outras obras que foram alvo de delação dentro da Operação Lava Jatao são as ferrovias de Integração Oeste-Leste e Norte-Sul. O ministro Edson Fachin, relator do processo, autorizou que a Procuradoria da República em Goiás investigue os crimes, devido ao suposto envolvimento do ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha das Neves.
Na ferrovia Oeste-Leste, que interliga Figueirópolis, no Tocantins, até Ilhéus, no litoral baiano, o delator Ricardo Roth Ferraz de Oliveira afirma que João Pacífico, então superintendente da Odebrecht na Região Centro-Oeste, solicitou um estudo sobre a possibilidade da Odebrecht participar da licitação na obra.
Em seu depoimento, ele informou que o preço apresentado pelo órgão que promoveu a licitação estava “fora do preço de mercado” e que não seria interessante para a Odebrecht participar da seleção.
O delator ainda explicou que se reuniu com representante de outras construtoras interessadas no edital para negociar melhorias a serem feitas no edital. Porém, no fim, a Odebrecht não participou da licitação.
Já com relação à Norte-Sul, a suspeita é que houve alterações no edital para favorecer a empresa Odebrecht.
Segundo delatores, também foi paga propina para agentes públicos entre 2008 e 2009, no valor de cerca de 4% do valor do contrato. A maior parte desse valor, conforme a delação, foi destinada a um grupo político representado por Juquinha das Neves.
Em nota, a Valec informou que as irregularidades apontadas na denúncia referem-se a períodos quando a empresa era gerida por outras diretorias e que atualmente existe internamente uma Comissão Especial de Acompanhamento e Apuração com a finalidade de acompanhar fatos investigados.
O G1 tentou contato com o advogado de defesa de José Francisco das Neves, mas as ligações não foram atendidas até a publicação dessa reportagem.
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