Com centenas de milhões em superfaturamento apontados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e mais de cinco anos de atraso, os 855 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul (FNS), entre Palmas (TO) e Anápolis, foram entregues no começo do ano, mas nenhum trem corre sobre seus trilhos. As dificuldades do embarque de produtos aos portos entravam o uso da ferrovia.
Após previsões anteriores, a última data estimada para possível início da operação é a segunda quinzena de novembro, o que também não significará fluxo regular. A empresa que vai começar a bancar as viagens é a Granol. Dedicada à produção e comercialização de grãos, farelos, óleos vegetais, glicerina e biodiesel para o mercado interno e externo, ela investiu cerca de R$ 30 milhões na plataforma de embarque. De acordo com a Valec, estatal que opera a FNS, o transporte de cargas só depende das transações comerciais a serem firmadas pela iniciativa privada.
A empresa de logística VLI e a Granol estão em negociação. De um lado, há o produto, e de outro, vagões e locomotivas para transporte com destino ao Maranhão, ao porto e, finalmente, ao mercado externo. Além disso, há uma série de entraves que tornam mais complexo todo o processo. O gerente da unidade da Granol em Anápolis, Osmar Albertini, explica que a negociação de tarifa para o transporte e a espera de janela para embarcar no Porto de Itaqui é que vão determinar quando a primeira carga será enviada pela FNS.
Dos trilhos ao mar
O porto no Maranhão embarca principalmente grãos e minério. Para não contaminar o produto, o farelo tem de aguardar entre um lote e outro. Essa oportunidade pode surgir em novembro por causa do fim da safra de soja e milho. Porém, dos trilhos ao mar, o que a iniciativa privada pontua é que o caminho pela ferrovia se torna complexo, e por isso subutilizado, porque, além da estrutura nos portos, há também outros custos de estrutura e frete.
Diferente do que se imagina, o frete rodoviário tem valor competitivo e pode ser até melhor, em determinadas épocas do ano, do que o ferroviário, segundo relata o gerente da Granol. Dessa forma, mesmo com produção suficiente para trafegar, a disponibilidade de equipamentos para o transporte e número de empresas que o fazem pela FNS torna o custo mais elevado. Outro fator determinante é que para a operação também é necessário que as empresas invistam em infraestrutura de embarque.
No cenário de crise econômica, a reportagem apurou que muitos empresários não sentem segurança no investimento. Além disso, é preciso pensar na armazenagem nos portos. Especialistas acreditam que a ferrovia possa ficar subutilizada ou até parada por mais um ano em Goiás. Para não dizer que não se pode ver nada ali, quem passa ou é vizinho ao trecho em Anápolis relata que vez ou outra uma máquina é avistada e mostra que ao menos a manutenção está nos trilhos.
O transporte que já foi feito partindo de Anápolis foi de 18 locomotivas até Porto Nacional (TO), por meio de contrato específico com a Valec, como explicou por nota a VLI. As máquinas foram destinadas às operações do Tramo Norte da ferrovia, que é administrado pela empresa e possui fluxo regular de cargas como grãos, combustível, ferro gusa e celulose. A empresa informou, por nota, que ainda não possui nenhum contrato vigente para realização de transporte de granéis no Tramo Sul da FNS, mas mantém contato com clientes e tratativas com a Valec para que possa ser viabilizado transporte de cargas.
Trecho goiano
Com os trechos em Goiás da Norte-Sul, 34 municípios serão beneficiados diretamente. A parte que irá ligar ao Sul do Brasil, chamada de Extensão Sul, ainda não está pronta e teve redução no ritmo das obras este ano. De acordo com a Valec, de Ouro Verde (GO) para Estrela D’Oeste (SP) a previsão para conclusão é dezembro de 2016.
A rigidez no atual cenário fiscal, com o governo federal determinando contenção de gastos são motivos para redução do ritmo do trabalho, segundo a Valec. Em junho, estava com cerca de 80% de avanço físico e hoje tem 88,7%. Mas a obra segue o cronograma, como informa a empresa.
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